quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Prolegómenos para uma metadocumentalidade (A propósito do “Portulíndia”)


1
Um livro tem que abrir com um espaço sagrado, onde o que é descrito, por definição, nunca se esgota nem se consuma.
2
Dever-se-ia tentar mostrar que isto é ubiquitário, não ser essa a essência do sagrado; as imagens profanas são sagradas pelo mesmo processo – ou sacralizam-se quando vencem a sua condição de instantâneos.
3
Um livro tem que retornar ao princípio quando pretende concluir – é a essência da poesia (e da sabedoria?) a que ele não pode escapar.
4
Deve-se usar com a maior parcimónia a retórica da impressão da imagem (contrastes, grão, tons). O valor de sedução que possuem gasta-se e não resiste ao segundo olhar.
5
Nenhuma obra deve aspirar a uma grande disseminação; a sua arquitectura deve ser quase autística no sentido de centrada na própria lógica interna e avessa a concessões espampanantes e a grafismos inúteis. Subordiná-los sempre à lógica e ao teor da obra.
6
O mostrar deve esconder a autoria no sentido de prescindir de afirmar um estilo ou um modo de ver, tão só visar empenhadamente um resultado meritório e significativo, isto é, que acrescente alguma coisa ao corpus fotográfico.
7
Cada fotografia vive da sua circunstância, a sua humildade de instante, de encontro e passagem. Um modo de organizar a imagem muito estruturado (na acepção da simetria, da distribuição dos elementos nos planos, do equilíbrio final que visa) pode conter uma conotação epopeica, de verdade acabada que, embora respeitável noutros autores, não me pertence.


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