sábado, 11 de dezembro de 2010

3 poemas do "catálogo de soluções"



Das fotografias



Mais vale esquecer o que as fotografias significam
Amarelecem esvanecem mancham-se de fungos se as interrogamos
Como nós recusam o teatro de acasos – deixam-nos à interpretação
Nós aprendemos a olhá-las como Deus vê o Mundo – uma geografia
de harmonias distantes com ritmos e sobressaltos que
se nos surpreendem
aproximamo-nos para ver o detalhe





Das explicações furibundas



É preciso explicar tudo
Para isso é preciso treinar o pensamento
na geometria furiosa da paixão – apreender do éter os tesouros
e das nuvens a resistência à aritmética violenta do tempo
Ao retornar à Terra o pensamento deverá separar os efeitos
da bondade e da justiça e também os seus excessos –
atribuir-lhes causas que são equações com a nobreza do vento
que ao amadurecer os frutos solucionam – Mas
para explicar tudo o que ficou por explicar
é preciso ludibriar o pensamento – cerrar-lhe os olhos
de prestidigitador levá-lo muito atrás onde ainda nada existe
senão uma vontade deslocalizada e um amor generoso
e levá-lo adiante onde tudo pode existir – ou não –
Ao evitar a palavra caos passámos a identidade das coisas
passámos a sua própria existência e o universo assim explicado
extravasa da existência e pode não existir




Para uma teologia pragmática


Depois de ter escrito longamente
sobre a ideia de Deus – Deus começa a existir
na suavidade das pequenas sílabas – Ainda não ele
mas uma sombra inatingível no horizonte – Percebemos então
no exercício da língua passarmos num corredor cheio de janelas
cerradas e apenas pequenas frinchas fazerem supor a luz e a
realidade
Ninguém a vai reconstruir ao contrário do que a imagina
Quem procura a luz deslumbra-se com o que pode afirmar
Quem se fecha na própria escuridão pensa sem o pensamento
e quando retoma a língua
pode prescindir de muitas coisas necessárias

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